Hospital
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O hospital, em sua essência, é uma estrutura que reflete a complexidade e a contradição do ser humano. Como uma metáfora kafkiana, ele se apresenta como um labirinto onde a vida e a morte se entrelaçam em uma dança macabra. Ninguém deseja estar ali, mas todos precisam em algum momento. É um lugar de cuidado e confinamento, onde o tempo parece suspenso e a espera é a única certeza. Aqueles que se encontram sob seus cuidados são envolvidos por uma aura de incerteza e dúvida. A precisão e a clareza são substituídas por processos confusos e desorientadores, e a sensação de que nada está sob controle é constante. Cada indivíduo lida com suas próprias angústias e medos, enquanto os profissionais de saúde tentam trazer conforto e cura em meio à turbulência. O hospital é um espaço onde a fragilidade humana se mostra em sua plenitude. A vida e a morte caminham lado a lado, e a cada dia é uma nova batalha pela sobrevivência.
Ao adentrar um hospital, toda a sua vida parece ficar para trás. Seus pertences são deixados do lado de fora, incluindo o inseparável celular. Suas roupas são substituídas e uma nova rotina toma conta de você, como se fosse uma outra vida. Esqueça o trabalho, os amigos e a família. Dentro das paredes do hospital, nunca se sabe ao certo quando sairá. Pode ser em alguns dias, semanas ou até mesmo meses, se é que a saída é uma opção.
Os médicos nos hospitais parecem sempre guardar um segredo, como se escondessem algo de nós. Eles aparecem em horários pré-determinados, apenas para conferir se ainda estamos respirando, e em seguida, desaparecem novamente. Quanto aos remédios, é uma incógnita. Alguma enfermeira amável pode deixar escapar o nome de algum medicamento de vez em quando, mas isso não importa muito, já que a maioria dos nomes é um emaranhado de letras e palavras desconhecidas para nós. E, antes que possamos decifrar o que estamos tomando, os remédios já foram trocados novamente.
Ao encontrar um paciente no hospital, a primeira pergunta que surge é sempre sobre a sua condição médica: “E você? O que você tem?” Nesse ambiente, a identidade pessoal do paciente é frequentemente suprimida, seja pela própria doença ou pela estrutura hospitalar em si. Suas roupas, medicamentos, cama e alimentos são rotulados com o seu número de paciente, em vez do seu nome, reforçando essa perda de identidade. A presença de espelhos é escassa, muitas vezes restrita apenas aos banheiros com acesso limitado. O choque em ver seu próprio rosto após semanas sem se olhar no espelho pode ser surpreendente e estranho.Além disso, a mobilidade do paciente é limitada, com o acesso a qualquer lugar além da própria maca sendo uma dificuldade. É no hospital que a linha entre o ser humano e a máquina se mistura, com uma série de equipamentos hospitalares prontos para manter o corpo vivo, incluindo respiradores, monitores cardíacos, sondas e oxímetros. Gradualmente, esses dispositivos se tornam uma parte integrante do paciente, tão essenciais quanto um par de sapatos ou óculos, mas geralmente ligados a uma tomada, impedindo que o paciente se mova livremente pelo espaço.
Em meio a tudo isso, você encontrará apoio em seus colegas de enfermaria - outros indivíduos que, como você, não tiveram muita sorte e acabaram no hospital. Vocês compartilharão histórias de como adoeceram e reclamarão das parafernálias presas ao corpo que os impedem de ir ao banheiro com facilidade. Mas dificilmente falarão sobre seus passados. É como se suas vidas começassem e terminassem ali, naquele ambiente hospitalar.
Um dia, você dorme ao lado de alguém e, no dia seguinte, essa pessoa já não está mais lá. Ela pode ter falecido ou sido transferida para outro lugar. Todo mundo some, morre ou recebe alta, até que chega o momento em que você se torna o paciente que some. Você pode ser transferido para outro lugar ou, se tiver sorte, receber alta médica e voltar para casa.
Quando finalmente chega o momento de voltar para casa, você se sente como uma outra pessoa. Os momentos de fragilidade pelos quais passou no hospital mudaram a forma como você enxerga a vida. Às vezes, você se lembra de alguém que conheceu no hospital, mas não consegue mais lembrar o nome. Ou talvez você se recorde de uma enfermeira ou enfermeiro que foi gentil com você, e isso aquece o seu coração.